Le Corbusier e o Nazismo

Palácio Gustavo Capanema. Rio de Janeiro, Brasil
Já li muito sobre a vida e a obra do arquiteto suiço Le Corbusier, mas saber que ele era simpatizante de Hitler e que colaborou com o governo de Vichy foi, para mim, uma surpresa. Parece que essa parte da biografia de Corbusier foi esquecida depois da guerra e vem a público, com razão, pela ação de judeus suíços diante da escolha de sua imagem como suíço de destaque na publicidade do banco UBS (leia a matéria do site Arq!Bacana)

Infelizmente esse não é um caso isolado de um personagem que teve seu passado ou ideias abrandados depois da guerra. De um modo geral, historiadores e a mídia tratam a ascensão do Nazismo como resultado de uma inércia das nações ocidentais e até como um produto de uma época "ingênua" que se deixou enganar pela oratória de Hitler. Acredito que o caso estava mais para simpatia mesmo. Os nazistas negavam o marxismo e isto agradava ao capitalismo e as Igrejas de um modo geral.

A obra de Le Corbusier é um paradigma para a arquitetura moderna e seu legado não deve ser totalmente desprezado. Suas propostas fizeram escola no mundo e no Brasil, onde inclusive participou como consultor no projeto do edifício do Ministério da Educação e Saúde (hoje Palácio Gustavo Capanema) no Rio de Janeiro. O então Ministro, o mineiro Gustavo Capanema, desejava passar a ideia de que o país se encontrava em uma fase de progresso e modernização. A obra foi iniciada em 1936 e concluída em 1945, sendo o edíficio entregue em 1947. Desta forma, o projeto se deu sob patrocínio do governo de Getúlio Vargas, sendo concluído durante o Estado Novo.

O projeto foi cordenado por Lúcio Costa e sua equipe era formada por jovens que mais tarde formariam a chamada "Escola Carioca" da arquitetura moderna. Eram eles: Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos, Jorge Machado Moreira e Oscar Niemeyer. Este último foi responsável pela solução final do partido arquitetônico do prédio. Essa solução, que concentrava os escritórios em uma torre e o auditório em um bloco separado, liberando grande áerea do terreno como jardins e espaço público, tornou-se modelo para outros edifícios em altura, sendo considerado o primeiro edifício em altura no estilo moderno no mundo. O projeto incorporou várias das propostas de Le Corbusier para a "nova arquitetura" como o brise-soleil (quebra sol) na fachada norte, o pilotis, o terraço jardim e o desenho do alto do prédio lembrando o perfil de um transatlântico. O prédio ainda conta com um paínel externo de azulejos de Portinari e pinturas de Guignard e Pancetti além de esculturas de Bruno Giorgi, Jacqques Lipchltz e Celso Antônio Silveira de Menezes.

Le Corbusier deixou outro legado no Brasil, o edifício da Embaixada da França em Brasília. Esse projeto foi iniciado pelo mestre na década de 1960 e concluído por seu assistente, devido ao falecimento de Le Corbusier. Ironicamente, a autoria do prédio foi lembrada pelo presidente Sarkozy, quando em visita ao Brasil.

Por fim, é bom ressaltar que a história da arquitetura no século XX não é a história da arquitetura moderna (ou modernismo). Houveram vozes destoantes que pregavam a arquitetura com uma visão mais cultural do que idealista. Isto, volto a frisar, em pleno século XX e em paralelo ao desenvolvimento do modernismo.

Sobre o Ministro Capanema, uma curiosidade, seu Chefe de Gabinete era o poeta, e também mineiro, Carlos Drumond de Andrade.

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